É fato consabido que o empresariado faz toda a diferença quando o assunto é economia. O que muitos não sabem é que o setor empresarial também pode fazer a diferença na política. Para tanto, tudo indica que nós, empresários, devemos fazer as duas coisas, que, aliás, estão plenamente ao nosso alcance.
A primeira é mudar nosso velho discurso. É preciso ir além da afirmação de que o crescimento econômico resolverá todos os problemas do país ou da humanidade. É preciso ir além da reclamação contra os altos impostos e da luta pela redução dos juros. É preciso ir além da reivindicação por políticas estatais de proteção ou concessão de algum tipo de vantagem ou privilégio setorial ou territorial. Sim, essas propostas, em boa parte, são justas e até necessárias. Mas se insistir na cantilena resolvesse alguma coisa, não estaríamos ainda reclamando.
A segunda coisa que devemos fazer é parar de falar apenas para nós mesmos. Enquanto continuamos numa tônica corporativa, tendo sempre a nós mesmos como sujeitos, não fazemos propostas para os outros setores da sociedade ou só nos comunicamos com eles a partir de propostas que visam a atender nossos próprios interesses. Foi assim que até hoje só participamos da política com uma agenda de interesses: seja mandando fazer estudos de alto nível para entregar as autoridades, seja articulando lobbies nos parlamentos ou nos governos, seja financiando candidaturas, nosso propósito, ao tentar influir na política, não raro se restringia a obter – via de regra do Estado – algum tipo de vantagem.
A experiência mostrou, entretanto, que isso não pode dar muito certo. Assim agindo, o empresariado não assumiu seu papel de ator político, não exerceu protagonismo e, conseqüentemente, não foi reconhecido como um agente capaz de expressar os interesses comuns da sociedade. Resultado: continuamos sendo atores subalternos, condição que é retro-alimentada pelo velho sistema político, sobretudo pelos parlamentares que querem financiamento para fazer suas próximas campanhas e pelos governantes que querem se reeleger ou indicar seus sucessores.
Os governos, agindo com esperteza, deixam pendida sobre a cabeça do empresariado a espada da fiscalização. O empresário se deixa intimidar por medo de retaliação e do uso discricionário dos instrumentos do Estado. A conseqüência é que, quase sempre, o empresariado entra no jogo da velha política. E esse jogo é um jogo armado para impedir o empresariado de fazer a diferença também na política.
Mas, olhando bem, na verdade não há muito que temer. O empresário é um cidadão como qualquer outro e tem direito de assumir seu protagonismo político e de não ser ameaçado. Basta que resolva se organizar para agir proativamente, não como quem pede alguma coisa a alguém, mas como quem faz o que acha que deve ser feito, com determinação e desassombro.
Nossa experiência nos últimos 3 anos indica que é possível, sim, dar esse passo. Organizamos em abril de 2006, no Paraná, a Rede de Participação Política do Empresariado (WWW.redeempresarial.org.br). De lá para cá alcançamos os seguintes resultados:
5 mil cadastrados conectados, de 25 diferentes estados brasileiros;
145 newsletters (semanais) enviadas personalizadamente para cada participante.
Mais de 8 mil comentários em 170 debates semanais sobre temas políticos candentes da conjuntura nacional.
210 mil ‘cartilhas’ “Guia do Voto Responsável” (distribuídas nas eleições de 2006).
270 mil ‘cartilhas’ “Guia do Voto Responsável” (distribuídas nas eleições de 2008).
Uma Agenda Estratégica para o Brasil, elaborada de modo compartilhado pelos participantes conectados.
10 núcleos regionais organizados: Curitiba (região metropolitana), Londrina, Maringá, Cascavel, Pato Branco, Paranavaí, Campo Mourão, Guarapuava, Ponta Grossa e Jacarezinho (Norte Pioneiro).
Um curso permanente, totalmente on line, de formação política, intitulado “Democracia, Redes Sociais e Sustentabilidade”.
Um site “Vigilantes da Democracia” – com um Sistema de Monitoramento e Avaliação dos eleitos (em 2006) inédito -www.vigilantesdademocracia.org.br
680 membros participando ativamente da plataforma de interação NING, com 29 Fóruns de Discussão, 7 grupos temáticos e 227 postagens de blog.
E, talvez, o mais importante em termos da diferença que podemos fazer:
Implantamos o Projeto Político de Desenvolvimento das Cidades do Paraná que nos próximos meses atingirá 48 localidades de 22 municípios, impactando potencialmente quase 1 milhão de pessoas (980.000 moradores das localidades onde o projeto está sendo aplicado).
Implantar esse projeto é tomar a iniciativa de articular o empresariado local, o poder público e a sociedade civil em torno de uma agenda de desenvolvimento, de forma democrática e livre dos vícios da velha política. Seu objetivo é transformar as nossas cidades em cidades inovadoras, cada vez mais autônomas no que tange à governança política do seu próprio desenvolvimento.
Se não podemos mudar de uma vez a política nacional e as decisões de Brasília ou da capital do estado, com certeza podemos começar mudando a política nas localidades onde estamos presentes. Mudar a velha política para fazer a nova política que nos interessa e que interessa a toda a sociedade: a política do desenvolvimento humano e social sustentável.
Os resultados obtidos até agora, por meio deste projeto de desenvolvimento local, apontam que o engajamento do setor empresarial é imprescindível para evoluirmos juntamente com a sociedade onde estamos inseridos. Por conseguinte, nós, empresários, fazendo nossa parte, juntamente com o poder público e com todas as pessoas que integram os mais variados segmentos, temos condições, sim, de fazer diferença. E construir um mundo muito melhor para viver!
(*) Rodrigo Costa da Rocha Loures é presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná