Em 5 anos, dobra a produção no APL de Loanda

Arranjo produtivo de metais sanitários se firma como segundo maior polo do País em seu segmento

clique para ampliar clique para ampliarFábrica de metais em Loanda: união em torno do APL facilita o crescimento (Foto: Gílson Abreu)

Há cinco anos, 16 empresários de Loanda, no Noroeste do Estado, que até então se viam como competidores, decidiram se unir. Eles formaram a Associação das Indústrias de Metais Sanitários de Loanda e Região (Aimes) com o objetivo de coordenar os trabalhos de um arranjo produtivo local (APL). A ideia era fazer com que, juntas, as empresas conseguissem capacitar a mão de obra, melhorar produtos e buscar novos mercados.

Os resultados nesses cinco anos são invejáveis. A produção na cidade praticamente dobrou, passando de 9,6 milhões de peças em 2006 para mais de 17 milhões em 2009. E o volume deve crescer outros 5% neste ano. O APL hoje reúne 62 fábricas de Loanda e região, faz os primeiros investimentos em inovação e se prepara para erguer o Centro Vocacional Tecnológico, que capacitará pessoas para suprir uma demanda por mão de obra que é uma dor de cabeça para os empresários. Isso porque as fábricas de torneiras da cidade, que empregam quase 3 mil pessoas, ou 20% da força de trabalho do município, abrem 300 postos de trabalho por ano.

“Nosso segmento exige um treinamento bastante específico e a demanda por pessoal é constante. Por isso a importância do centro”, explica o empresário Henrique Torres, diretor da Real Metais. “Além disso, estamos trazendo máquinas novas, que exigem uma formação melhor”, completa.

Os treinamentos viabilizados através do APL não ficam restritos aos trabalhadores. Os próprios empresários fizeram cursos sobre gestão e tiveram a chance de conhecer fábricas na Itália em uma missão empresarial que mudou o jeito de pensar dentro do arranjo. Itens como design e inovação entraram de vez na pauta e passaram a ser trabalhados com as parcerias que o APL viabiliza com instituições como o Senai, Sebrae e a Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Na Real Metais, o primeiro produto 100% projetado internamente saiu do forno em abril deste ano. “Trabalhávamos muito com a mimetização do que víamos no mercado. Agora partimos para uma linha totalmente nossa, o que nos permite mudar um pouco o posicionamento de mercado”, conta Torres. A nova torneira tem design mais sofisticado e voltado para um público de renda mais alta do que a do cliente normalmente atendido pelas fábricas da região.

O caminho da inovação, porém, ainda é longo, mas é uma evolução importante no arranjo. O economista Fábio Dória Scatolin, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) explica que os APLs são divididos em três níveis: o embrionário, no qual a organização ainda é incipiente, o intermediário, em que há uma governança ativa, e o maduro, no qual os problemas básicos, como formação de mão de obra, já foram solucionados e as empresas conseguem inovar sem apoio governamental. Bem organizado, o APL de Loanda tenta acabar com gargalos, como evidencia a construção do centro de treinamento de pessoal, e se prepara para criar uma cultura inovadora. É a busca pela maturidade.

Vantagens – A organização das empresas em APLs teve inspiração em regiões industriais da Itália onde pequenas e médias empresas se organizam para conquistar vantagens competitivas. Muitas delas se tornam exportadoras e líderes de inovação em seus setores. No Brasil, a ideia vem sendo articulada por governos, entidades empresariais, como a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), e órgãos de apoio, como o Sebrae e a Finep. “Existe um esforço de apoio aos arranjos porque eles ajudam as empresas a lidar em conjunto com problemas que são comuns, aumentando a competitividade de toda a região”, resume Scatolin, que participa de estudos sobre os APLs do Paraná feitos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Juntas, empresas de uma mesma região negociam melhores preços para as matérias-primas, custeiam treinamentos e consultorias, e criam forças-tarefa para alcançar critérios de qualidade. A colaboração inclui o cumprimento de normas ambientais, como no caso de Loanda, onde para fazer parte do APL as fábricas precisam respeitar todas as exigências ambientais e ter o licenciamento do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em dia.

“Dentro do APL temos apoio para cumprir as normas ambientais, porque esse é considerado um requisito básico”, conta o empresário Vinícius Ruiz Simões, dono da Talita Metais. A empresa já investiu R$ 150 mil para montar uma estação de tratamento de água que permite a reutilização do líquido no processo produtivo. A companhia também encomenda laudos técnicos a cada quatro meses para monitorar a qualidade do tratamento. Os resíduos sólidos são encaminhados a um aterro credenciado pelo IAP em Apucarana.

História – A concentração de empresas do ramo de metais sanitários em Loanda começou a se formar nos anos 80, quando empreendedores da região decidiram investir em uma fábrica, a Imperatriz. Com o tempo, ela foi contratando firmas terceirizadas montadas por ex-funcionários, já que a unidade fica longe dos grandes centros fornecedores. A produção, assim, se espalhou pela cidade, que hoje tem quase toda sua atividade industrial ligada à fabricação de torneiras.

A Talita Metais, por exemplo, entrou no mercado há 11 anos como uma fornecedora de peças. Começou com 30 funcionários, investiu em equipamentos para cromação, passou a produzir kits completos de torneiras e hoje tem 200 funcionários que colocam no mercado 200 mil itens por mês – volume 30% maior do que há um ano.

“A tendência do setor é crescer ainda mais com o aquecimento da construção civil”, diz Henrique Torres, da Real Metais, que registrou um aumento de 20% nas vendas nos últimos 12 meses. Ele credita parte da expansão a ações apoiadas pelo APL, como a participação em feiras especializadas, onde as empresas expõem seus produtos, e ganhos de produtividade provocados pelo melhor treinamento dos funcionários. “Aqueles que acreditaram na força da cooperação estão colhendo os benefícios”, resume.

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