A Câmara de Petróleo e Gás, articulada pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), apresentou nesta quarta-feira (1º), em Curitiba, 15 propostas de ação consideradas necessárias para que empresas do Estado possam se inserir nessa cadeia produtiva. A intenção é que indústrias locais aproveitem os investimentos já anunciados para viabilizar a exploração do pré-sal, que apenas no caso da Petrobras chegarão a R$ 224 bilhões até 2014. A partir de agora, serão buscadas parcerias para que as propostas se transformem efetivamente em projetos que alavanquem o desenvolvimento de uma rede paranaense de fornecedores do setor.
As ações propostas foram elaboradas por cinco grupos de trabalho formados pela Câmara e estão divididas nas seguintes áreas: qualificação de mão de obra; inovação e tecnologia; certificação e qualificação dos fornecedores; captação e fomento; e políticas públicas. Os grupos contaram a participação de empresários e representantes de mais de dez entidades, que realizaram 20 reuniões ao longo de 2010. “O objetivo desses grupos de trabalho era identificar o que falta no Estado para que nossas empresas se insiram na cadeia produtiva, viabilizando uma base estruturante para que se possa ao menos falar em petróleo e gás no Paraná”, explica o secretário executivo da Câmara, Jean Carlos Alberini. “Identificamos que existem dezenas de ações sendo tocadas de maneira isolada no Estado, mas é necessário uma articulação conjunta para potencializar os resultados. É isso que estamos fazendo na Câmara”, acrescenta.
Entre as 15 ações propostas (confira a lista completa ao fim desta matéria), algumas já estão em andamento, como a centralização das informações sobre mão de obra do setor em um banco de dados único para todo o Estado. “Já estamos em conversas adiantadas com a Secretaria de Estado do Emprego e Trabalho para criar uma categoria específica para classificação de trabalhadores da cadeia de petróleo e gás, facilitando o acesso das empresas interessadas nesses trabalhadores”, afirma Alberini. A Câmara sugere ainda a criação de bolsas para que estudantes de engenharia sejam alocados em empresas ligadas ao setor e cursos na área de petróleo e gás para capacitação de pessoas desempregadas.
Além do treinamento de mão de obra, outra preocupação da Câmara é com a qualificação das empresas que pretendem fornecer para o pré-sal, já que o nível de exigência da Petrobras – principal investidora do setor – é bastante elevado. “Muitas vezes os empresários não têm conhecimento das especificidades técnicas da cadeia de petróleo e gás”, diz o secretário executivo. Por isso, o grupo pretende criar a cartilha “ABC do Pré-Sal”, mostrando às indústrias as possibilidades de negócios e os critérios adotados para escolha de fornecedores.
Outra publicação que a Câmara deve produzir é um manual sobre o Repetro – regime aduaneiro especial para a exportação e importação de bens destinados à exploração e à produção de petróleo e gás natural. “A maioria do empresariado paranaense nem sabe da existência do Repetro, por isso estamos sugerindo a criação de um passo a passo de como acessar e utilizar esses benefícios”, afirma Alberini.
Além disso, a Câmara propõe a elaboração de projetos que facilitem o acesso de empresas a linhas de crédito voltadas para o setor. O grupo sugere inclusive a criação de um fundo estadual privado, nos moldes do Fundo Garantidor de Crédito. Além disso, pretende estruturar ambientes de negócios para que companhias nacionais e estrangeiras possam estabelecer sociedades.
Outra preocupação é com o desenvolvimento de novas tecnologias pelas empresas que querem fornecer para a cadeia de petróleo e gás. Para isso, a Câmara deve atuar na busca de mecanismos que estreitem o relacionamento das empresas com as universidades paranaenses. A criação de células de pesquisa e desenvolvimento dentro das empresas é outro projeto que será formalizado pelo grupo.
A partir de agora, a Câmara de Petróleo e Gás buscará parcerias com instituições públicas e privadas para viabilizar a elaboração e execução das ações propostas. “Vamos trabalhar para mobilizar diferentes segmentos da sociedade para que essas propostas de ação sejam transformadas em projetos e efetivamente implantadas”, conclui Alberini.
Case de sucesso
Para mostrar como empresas de diferentes setores podem estender seus negócios para a cadeia de petróleo e gás, a reunião desta quarta-feira da Câmara contou com a presença do gerente de vendas da WEG, Jorge Luís Marquezini. Em 2007, a empresa, que tem sede em Santa Catarina, montou uma equipe específica para atender o segmento. No ano passado, as vendas da WEG para o setor alcançaram aproximadamente R$ 178,5 milhões, o que representou 3,5% do faturamento total da empresa. A companhia fornece componentes como paineis de média e baixa tensão, transformadores, motores para compressores de gás e para bombas de água, além de outros subsistemas de supervisão e segurança utilizados em embarcações e plataformas de extração de petróleo.
Segundo Marquezini, um dos quesitos que levou a WEG a se destacar no setor foi justamente o investimento em pesquisa e desenvolvimento. “A empresa conta com mais de 1 mil engenheiros desenvolvendo produtos, em parceria com escolas de engenharia do Brasil e do exterior”, conta. A empresa assinou ainda termos de cooperação com a própria Petrobras para o desenvolvimento de alguns componentes que hoje só possuem similares importados.
A competição com produtos estrangeiros, de acordo com o gerente, é justamente o principal obstáculo encontrado por empresas brasileiras que fornecem equipamentos para a cadeia de petróleo e gás. “Em uma concorrência pública, as empresas brasileiras têm que comprovar o recolhimento de todos os tributos, enquanto uma estrangeira paga apenas o imposto de importação, o que torna a concorrência desigual”, afirma.
Além da apresentação da WEG, a reunião desta quarta-feira teve a participação dos professores Haroldo de Araújo Ponte, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Rigoberto Morales, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Eles apresentaram as iniciativas das duas instituições voltadas para o setor. Enquanto a UFPR está implantando o Instituto de Petróleo e Gás, a UTFPR está construindo, em parceria com a Petrobras, um laboratório para testes de tubulações utilizadas na exploração em águas profundas. Segundo os dois professores, as universidades estão abertas para o desenvolvimento de projetos em parceria com indústrias paranaenses.
CONHEÇA AS PROPOSTAS DE AÇÃO DA CÂMARA DE PETRÓLEO E GÁS:
Qualificação de Mão de Obra
– Centralização e utilização de Banco de Dados único, com informação da mão de obra disponpivel no Estado para a cadeia de P&G;
– Viabilização de Bolsas, para estudantes de engenharia serem alocados na empresa;
– Disponibilização de Cursos para desempregados na área de Petróleo e Gás, em ambiente empresarial com contato direto com as empresas.
Inovação e Tecnologia
– Mecanismo de Comunicação Empresa /Universidade;
– Viabilização de Célula de P&D nas empresas através do Instituto de Petróleo e Gás da Universidade Federal do Paraná;
– Desenvolvimento do Centro de Excelência Tecnológica do Estado na àrea de Petróleo e Gás.
Qualificação e Capacitação de Fornecedores;
– Criação de Cartilha ABC do Pré- Sal, para fornecedores da Cadeia;
– Viabilização de consultoria permanente pós qualificação;
– Intercâmbio de empresas nacionais com estrangeiras em qualificação de Petróleo e Gás.
Políticas Públicas
– Manual de instrução ” Passo a Passo do REPETRO;
– Criação de Comitês de discussão a nível estadual;
– Viabilização de programa de mobilização dos municípios.
Captação e Fomento
– Projeto de estudo da estrutura de crédito da cadeia de P&G;
– Criação de Fundo Estadual Privado de Crédito, nos moldes do Fundo Garantidor de Crédito;
– Estruturação de ambiente de negócios, onde empresas nacionais e estrangeiras estabeleçam associações, joint venture e consórcios.