O desafio de garantir um legado social a partir dos eventos esportivos que o Brasil receberá nesta década foi tema de debate nesta quarta-feira (18), na Conferência das Cidades Inovadoras – CICI 2011. Caminhos e iniciativas foram apresentados no painel “Jogos Limpos dentro e fora do campo: estratégias articuladas para os investimentos de megaeventos no Brasil”. Participaram do debate Felipe Saboya, coordenador nacional de mobilização do Instituto Ethos, entidade que está à frente do Projeto Jogos Limpos; Glaucia Barros, gerente de programas da Fundação Avina e membro da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, e Victor Barau, da organização não governamental Atletas pela Cidadania.
Essas entidades atuam para aumentar os níveis de transparência, integridade e controle social dos investimentos nas obras de infraestrutura da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Esses fatores foram apontados como chaves para que o País possa transformar, a longo prazo, os investimentos voltados aos megaeventos em políticas permanentes de desenvolvimento.
Felipe Saboya explicou que Projeto Jogos Limpos congrega diversas organizações que já atuam no controle social, mobilização e combate à corrupção no País. De acordo com Felipe, o tripé “transparência, integridade e controle social” sustentam a iniciativa, que prevê a realização de ações coletivas com engajamento do setor público, da organização da sociedade civil, de empresas ligadas aos setores estratégicos e da sociedade.
“Nossa democracia ainda é jovem e se manifesta com mais intensidade em períodos eleitorais. Mas a verdadeira demonstração da democracia deve ser dada no acompanhamento constante dos investimentos públicos realizados no País, em especial em momentos como estes”, afirmou, referindo-se aos eventos esportivos.
A gestão do projeto Jogos Limpos é feita por um comitê nacional e por cinco comitês regionais, responsáveis pelas 12 sedes da Copa do Mundo de 2014 e pela sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Estão previstas no projeto, ainda, a elaboração de indicadores de transparência e a divulgação de informações sobre as obras realizadas, além de compromissos firmados por meio de acordos dos acordos setoriais.
Glaucia Barros, da Fundação Avina, lembrou que, de acordo com dados oficiais, mais de R$ 23 bilhões serão investidos pelo poder público para a realização de obras de mobilidade urbana e infraestrutura de estádios.
“As cidades sedes já têm seus planejamentos quanto a obras e convênios a serem celebrados, mas não necessariamente quanto aos impactos perenes que estes investimentos trarão após os eventos”, afirmou.
Para ela, o Brasil pode conhecer uma experiência diferente das experimentadas pelos países que já sediaram edições anteriores destes eventos, desde que a sociedade participe de maneira ativa e vigilante. Glaucia alerta que, no entanto, a tarefa requer articulação entre as estratégias e iniciativas, uma vez que “a emoção associada ao futebol pode agravar a negligência que, culturalmente, temos frente aos investimentos públicos”.
O representante da organização Atletas pela Cidadania, Victor Barau defendeu que o esporte é um aliado na redução da violência urbana e contribui sobremaneira para o desenvolvimento social e humano do País.
“Precisamos usar estes eventos para garantir estes legados. Copa e Olimpíadas não são pontos de chegada. É preciso pensar à frente, em um horizonte mais amplo”, disse. Victor também apresentou as metas da ONG Atletas pela Cidadania: até 2016, fomentar a prática educacional do esporte em 80% das escolas públicas das cidades sede; e, até 2022, atingir a totalidade das escolas. “É uma meta ousada, mas que receberão o impulso dos eventos no País.”