
Com a idéia de viabilizar negócios a partir dos resíduos gerados pela indústria e contribuir para o fomento de práticas mais sustentáveis, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), lançou nesta segunda-feira (27) a Câmara Técnica de Resíduos Industriais (CTRI).
A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Conselho Setorial de Meio Ambiente, da Fiep, e a Coordenação de Desenvolvimento da Fiep, e pretende servir como espaço para a troca de experiências na área do meio ambiente, disponibilizando tanto a expertise técnica de Federação, quanto contribuições de universidades, do poder público, empresas, sindicatos industriais e outras entidades que já tenham realizado ações neste setor.
Dentro da CTRI serão formados três grupos de trabalho permanente: o primeiro voltado à instalação de Centrais de Tratamento de Resíduos; o segundo dedicado ao estudo de soluções no âmbito da Logística Reversa, e o terceiro com foco na chamada “Simbiose Industrial”, termo usado quando o resíduo de uma indústria pode ser aproveitado como fonte de energia ou insumo em outro tipo de indústria, inserindo-o novamente no ciclo industrial.
Segundo o coordenador de Desenvolvimento da Fiep, Marcelo Percicotti, estes três grandes temas que irão nortear os trabalhos da CTRI são convergentes e apontam para uma infinidade de possibilidades de negócios. “Estamos falando de algo que pode ser tratado, processado e transformado em riqueza”, observa.
Durante a primeira reunião da Câmara Técnica, foi apresentado um case do Sindicato das Indústrias de Bebidas do Estado do Paraná (Sindibebidas) que abrange os três temas da CTRI. Trata-se de uma Central de Valorização de Materiais utilizada para receber e tratar as embalagens usadas destas indústrias. Além de atuar no âmbito da logística reversa a iniciativa também é um exemplo de simbiose industrial, uma vez que estas embalagens, após processadas, tornam-se insumo para a confecção de diversos outros produtos industrializados.
Segundo o secretário executivo do Sindibebidas, Luiz Roberto dos Santos, este projeto atende a premissa da Lei nº 12305/10, que trata da política nacional de resíduos sólidos e do Decreto 7404/10 que, dentre outros temas, institui a participação de catadores de materiais recicláveis neste processo. A Central deve entrar em operação em julho deste ano. A previsão é que em 12 meses ela se torne economicamente sustentável. Outra inovação deste projeto, segundo Luiz Roberto, é a forma de gestão compartilhada com os catadores de materiais recicláveis.
A participação destes trabalhadores nas ações de reciclagem é outro pilar fundamental para o sucesso das empreitadas futuras da CTRI. Por isso a Fiep convidou a vice-presidente do Instituto Lixo e Cidadania e representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis no Paraná, Marilza de Lima, para participar das próximas reuniões da entidade. “O trabalho da câmara é muito bom, os empresários não sabem do trabalho do catador, não veem que podem fazer um trabalho em parceria de várias maneiras.”, observa.
Contribuição acadêmica – Outro ator de grande importância para a construção de propostas ambientalmente responsáveis e soluções na área de resíduos industriais são as universidades. Durante a primeira reunião do CTRI, o pesquisador russo Vsévolod Mymrine, integrante da equipe vencedora do Prêmio Nobel de Física de 1964 (invenção do raio laser) e atualmente professor titular visitante da Universidade Federal do Paraná (UFPR), colocou-se à disposição para proferir palestras e contribuir com os trabalhos da Câmara Técnica com sua experiência de 40 anos na área de reaproveitamento de resíduos.
No campo jurídico, outra contribuição veio da Academia Paranaense de Direito Ambiental (APDA), que irá auxiliar os grupos de trabalho e os comitês que venham a ser formados pela CTRI na redução de riscos e adequação legal das ações desenvolvidas.
Segundo Flávia Malucelli, diretora executiva da APDA, é preciso uma visão sistêmica dos aspectos legais que envolvem o meio ambiente para que as ações da Câmara tenham efetividade.
Entidades – Participaram da reunião de lançamento da Câmara Técnica de Resíduos Industriais representantes da secretaria estadual do Meio Ambiente, representantes da prefeitura de Araucária, da Agência Curitiba de Desenvolvimento, da UFPR, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Instituto Tecnológico do Paraná, LACTEC, Compagás, Sanepar, Academia Paranaense de Direito Ambiental, Instituto Lixo e Cidadania, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, além de empresas e sindicatos industriais do Estado.