Especialistas apontam a falta de interesse dos jovens como desafio do ensino médio no Brasil

O ensino médio foi o tema do encontro promovido pelo Colégio Sesi e o Sistema Fiep, terça-feira. As metas do governo e novos modelos de educação foram debatidos por José Pacheco, Belmiro Valverde e Sandra Garcia, do MEC

A falta de interesse dos jovens pelo ensino médio e o alto índice de evasão dos alunos estão entre os principais problemas da educação brasileira nesta etapa da escolarização, segundo apontaram os participantes do workshop “Desafios do Ensino Médio no Brasil”, realizado terça-feira (26), no Cietep, em Curitiba. Promovido pelo Colégio Sesi e o Sistema Fiep, o encontro reuniu o educador José Pacheco, o professor e consultor de empresas Belmiro Valverde; e a coordenadora geral do Ensino Médio do MEC, Sandra Garcia, para debater os caminhos, as oportunidades e as práticas inovadoras da educação de jovens.

 “Queremos saber por que há falta de interesse dos jovens e até mesmo das famílias por esta etapa da escolarização”, disse o diretor-superintendente do Sesi Paraná, José Antonio Fares, que abriu o encontro e mediou o debate. “O jovem parece querer pular essa etapa e buscar direto o mercado de trabalho, resolvendo a questão da escolaridade mais tarde, com cursos supletivos. É preciso que o País discuta como fazer para que o ensino médio possa a exercer efetivamente o seu papel de formar cidadãos plenos, que a sociedade tanto precisa”, afirmou Fares.

Segundo Sandra Garcia, do MEC, em 2004 o Brasil atingiu o pico máximo, com 9 milhões de alunos no ensino médio. Hoje são 8,5 milhões de alunos. A taxa de abandono escola chega a 10% no Brasil, enquanto na Argentina é de 7%, no Chile de 2,1% e na Venezuela de 1%. “A emenda Constitucional 59, reafirmado no Plano Nacional de Educação, que está em discussão no Congresso Nacional, coloca como meta a universalização do ensino médio até 2016 e até 2020 alcançar até 85% da população de 14 a 17 anos com matriculas efetivas”, disse Sandra.

“O ensino médio é o desafio da década”, afirmou a representante do MEC. Ela contou que pesquisa realizada por uma entidade social ligada a educação aponta três grandes questões para o ensino médio. Uma delas é a qualidade dos professores, o que envolve a formação na universidade, a oferta de educação continuada, as condições de trabalho, a carreira, incluindo salários, e a dedicação exclusiva. A segunda questão é o número de alunos por sala de aula, fator responsável pelo rendimento escolar. A terceira é a ampliação do tempo do jovem no ambiente escolar.

Inovações – Para José Pacheco, que conduziu uma das experiências educacionais mais revolucionárias do mundo – da Escola da Ponte, em Portugal, e que acompanha a experiência do Colégio Sesi Ensino Médio, a educação não pode ser segmentada em ensino infantil, fundamental e médio. “O problema não está no ensino médio, mas na segmentação, que reflete uma cultura que há muito deveria ter sido banida”, disse ele.

Pacheco explicou que os projetos inovadores que acompanha, tanto no Brasil como em outros países, a idéia da sala de aula está ausente, porque, segundo o educador, não é possível ensinar a todos como se fosse um só. “Não compete ao professor preparar projetos para os alunos, porque isso é manipulação. O professor tem de se planejar com o outro, ter interdependência, colaboração, perceber que a escola é lugar de trabalho e de troca. “O desafio maior do ensino médio, assim como o da educação como um todo, é sermos responsavelmente ousados, destruir os guetos que existem dentro de nós, acabar com a segmentação”, afirmou ele.

O professor e consultor Belmiro Valverde ressaltou a necessidade de a escola ter comprometimento de formar pessoas para o trabalho criativo, com capacidade de fazer coisas instigantes, atrativas. “O trabalho do professor, a meu ver, é criar condições para essa educação. É preciso que a educação tenha compromisso de dar ao jovem uma agenda mínima de competências, como saber ler, escrever, comparar, interpretar.

Segundo Belmiro Valverde, é difícil que se consiga fazer isso dentro do complexo modelo atual, cujas contradições parecem insuperáveis. “Neste sentido, a grande ferramenta da aprendizagem é a experimentação e o grande papel do Ministério da Educação e Cultura é ampliar e estimular a experimentação. É preciso que a educação saia do terreno da abstração para o terreno do provável”, afirmou ele.

Colégio Sesi – No encontro, o Colégio Sesi Ensino Médio foi apresentado como case de sucesso em educação inovadora. Segundo o diretor superintendente do Sesi-PR, José Antonio Fares, o Colégio Sesi concretizou a proposta do Sistema Fiep de priorizar a educação como caminho para o desenvolvimento sustentável do Paraná. “Buscamos um modelo educacional diferenciado, que pudesse contribuir efetivamente para com os nossos jovens, dando-lhes uma formação plena, desenvolvendo competências como a capacidade de liderança, de articulação e do trabalho em equipe.

“Com 44 unidades e mais de 11 mil alunos, o Colégio Sesi é hoje uma referência em ensino médio de qualidade”, disse a gerente de operações inovadoras do Colégio Sesi, Lilian Luitz, que apresentou o case.

A metodologia aplicada é a “Oficina de Aprendizagem”, que tem como base o trabalho em equipe, o que estimula a integração e o respeito mútuo na escola. As equipes são formadas por alunos de diferentes séries (interseriação). A cada trimestre é lançado um tema desafio e o aprendizado se dá no processo em que os alunos têm de responder a esse desafio.

 

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