Publicado pelo jornal Brasil Econômico, em 12 de março de 2013

Por Edson Campagnolo
O presidente da nação mais poderosa do planeta deu, recentemente, uma demonstração de humildade que serve de exemplo para que nós, brasileiros, aprendamos com erros alheios. Ainda que em tom bastante nacionalista, Barack Obama admitiu, em seu discurso anual ao Congresso, uma série de equívocos que levaram os Estados Unidos a uma das piores crises de sua história. Mais do que isso, apontou caminhos para a retomada do crescimento de seu país que são a chave para o desenvolvimento pleno e sustentável de qualquer nação. O discurso deste ano complementa o que Obama já havia dito em seu pronunciamento ao Congresso em 2012. Em ambas as ocasiões, apontou os empregos gerados pela indústria como preponderantes para a recuperação econômica de seu país.
Obama vai além: critica a maneira como os EUA perderam empregos industriais na última década, permitindo que fosse mais vantajoso para empresas americanas instalar fábricas em outros países. O processo de desindustrialização pelo qual os EUA passaram é uma preocupação também para diversos setores da indústria brasileira. A Fiep e outras entidades representativas já vêm chamando a atenção dos governantes sobre a perda de competitividade de vários produtos nacionais diante da enxurrada de importados que invade nossas lojas. Muitas empresas brasileiras também já deixaram de produzir no país. A indústria têxtil e de confecção, por exemplo, calcula que a cada minuto um emprego deixa de ser gerado no Brasil devido à concorrência com peças vindas de outros países.
Os motivos internos que levaram empresas brasileiras ou americanas a optarem por gerar empregos em outros países podem ter diferenças. Mas a solução, mais uma vez, está clara nos discursos de Obama: reformas, reformas e mais reformas. O presidente americano cita a necessidade de mudanças principalmente no sistema de impostos, para beneficiar as indústrias que geram empregos em seu próprio território. No Brasil, o governo federal vem adotando várias medidas para aumentar a competitividade da indústria. Elas são importantes, mas não substituem a necessidade de uma reforma tributária ampla, assim como defende Obama nos EUA. Em seu discurso este ano, Obama levantou outra prioridade: a capacitação de mão de obra.
Pela primeira vez ouço um presidente americano apontando o ensino técnico integrado ao ensino regular de segundo grau como uma solução para colocar os jovens em condições de conseguir bons empregos e garantir renda no futuro. Obama apontou ainda outros pontos fundamentais para o crescimento sustentável, como o incentivo à inovação e a ampliação de fontes alternativas de energia. Para todos os casos, pediu esforços do Congresso na aprovação de mudanças na legislação. Os caminhos apontados por Obama valem, sem dúvida, também para pautar o desenvolvimento do Brasil. Mais importante, indicam que, assim como está sendo feito por lá, as soluções dependem de decisões internas. E é urgente que comecemos a agir. Não podemos esperar que uma crise tão grave como a americana nos atinja para só então aplicarmos essas soluções. Basta vontade para aprová-las e dedicação para colocá-las em prática.
Edson Campagnolo é presidente da Federação das Indústrias do Paraná