Pesquisa e ciência como propulsoras do empreendedorismo de alto impacto: Inovação no setor da Eletroquímica
Estudar de forma comparativa as trajetórias da Coréia do Sul e do Brasil nos últimos trinta anos tem sido um exercício muito valioso para compreendermos a importância do diálogo entre a ciência e as empresas, para a geração de negócios inovadores, e consequentemente de valor econômico, e bem-estar social. Há trinta anos, o Índice de […]
Estudar de forma comparativa as trajetórias da Coréia do Sul e do Brasil nos últimos trinta anos tem sido um exercício muito valioso para compreendermos a importância do diálogo entre a ciência e as empresas, para a geração de negócios inovadores, e consequentemente de valor econômico, e bem-estar social. Há trinta anos, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Coréia do Sul era de 0,72, um valor comparável com o patamar atual de países como Bolívia, ou Vietnã. Nesta mesma época, em 1980, o Brasil tinha um IDH de 0,68, que podia ser comparado com os números atuais do Tadjiquistão ou da Namíbia. Trinta anos depois, em 2012, a Coréia do Sul chegou a um IDH de 0,90, erguendo-se ao 12º lugar da classificação mundial deste indicador, ao lado de países como Canadá e Dinamarca, e ultrapassando Israel, França e Finlândia. Enquanto a Coréia do Sul concretizou em apenas uma geração um crescimento espetacular de 30% no seu IDH, o Brasil viveu um crescimento de apenas 19% no mesmo período, encontrando-se atualmente na 85ª posição, e atingindo o valor de 0,73, o que lhe posiciona ao lado de países como a Jamaica e Azerbaijão.
Como o Brasil, sexta maior economia mundial, com um PIB de US$ 2,4 trilhões; quinto país mais populoso e mais extenso do mundo, com mais de 200 milhões de habitantes e uma área total de 8,5 milhões de metros quadrados, pode ter um PIB per capita de apenas US$ 11.875, três vezes inferior ao da Coréia do Sul que culmina a US$ 31.753? Uma breve análise da atividade econômica e da pauta de exportação dos dois países é suficiente para responder a esta pergunta. Enquanto a pauta de exportação brasileira continua dominada por produtos de baixa intensidade tecnológica, ou seja, commodities, tais como minério de ferro, soja ou carne, a Coréia do Sul operou uma verdadeira revolução através do conhecimento e da inovação, sendo hoje uma potência econômica global líder na produção e exportação de dispositivos semicondutores.
Onde está o grande segredo desta impressionante ascensão da Coréia do Sul? É surpreendente constatar que se tratou de “apenas” uma constante e inabalável determinação da sociedade civil coreana em (1) aumentar radical e rapidamente o impacto da educação em qualidade e quantidade, (2) descomplicar e incentivar a transformação do conhecimento em negócios inovadores. Em números, enquanto a Coréia do Sul investe anualmente 3,3% do seu PIB em atividades de P&D, 2,45% proveniente do setor privado, o Brasil investe 1,2% nestas mesmas atividades, sendo apenas 0,55% do setor privado. Enquanto na Coréia do Sul 78% dos pesquisadores trabalham nas empresas, no Brasil apenas 26% dos mestres e doutores estão inseridos em atividades do setor privado. O dispêndio coreano em P&D per capita é atualmente de US$ 1.088/ano enquanto este mesmo investimento no Brasil chega ao tímido valor de US$ 134/ano.
Ciente do seu papel e da sua responsabilidade de apoio a competitividade industrial, é portanto neste contexto que o Senai, nacionalmente, assinou em 2012 um acordo de cooperação técnico com o BNDES, consistindo em um investimento total de R$ 2 bilhões até 2015, para a implementação de 25 institutos de pesquisa aplicada (chamados de ISIs – Institutos Senai de Inovação), 63 institutos de tecnologia (chamados de ISTs – Institutos Senai de Tecnologia) e ainda 53 novos centros de educação profissional (chamados de CFPs – Centros de Formação Professional do Senai). Este amplo movimento, que cobrirá todo o território nacional, vise diretamente a fortalecer a produtividade, a competividade e a sustentabilidade das Indústrias, no Brasil, por meio da tecnologia e da inovação.
O primeiro dos 25 Institutos Senai de Inovação a ser inaugurado, em Setembro de 2013, foi o Instituo de Eletroquímica (http://www.senaipr.org.br/instituto-de-inovacao/), localizado no Campus da Indústria do Sistema Federação das Indústrias do Paraná, no bairro Jardim Botânico, na Cidade de Curitiba, Paraná. O chamado “Campus da Indústria” consiste em um ecossistema de inovação, que está sendo estrategicamente desenvolvido na região do Tecnoparque, em Curitiba, onde se encontram uma importante parte dos ativos de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado. Encontramos em particular no Campus da Indústria os campi principais de universidades como a UFPR – Universidade Federal do Paraná, a UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a PUCPR – Pontífice Universidade Católica do Paraná, e importantes centros de pesquisa como o LACTEC, entre outros (maiores informações em http://www.sistemafiep.org.br/campusdaindustria/). É, portanto, no coração deste ecossistema de inovação que atividades de pesquisa aplicada em eletroquímica estão sendo desenvolvidas há já um ano pelo Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica. Os principais tópicos de pesquisa aplicada perseguidos, sempre para atender necessidades empresariais, são:
- Corrosão e revestimentos anticorrosivos,
- Armazenamento eletroquímico de energia (pilhas, baterias, celas combustíveis),
- Nanotecnologia e novos materiais (materiais nano-estruturados, cerâmicas),
- Sensores eletroquímicos (para propósitos ligados a saúde e processos industriais) e
- Remediação de resíduos e efluentes por métodos eletroquímicos.
Para garantir que os processos e a infraestrutura de P&D do Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica possam ser equivalentes as estruturas mais avançadas do Mundo, participam do projeto de implementação e desenvolvimento deste Instituto a Sociedade Fraunhofer da Alemanha (maior rede de pesquisa aplicada na União Europeia) e o conhecido MIT (Massachusetts Institute of Technology, Boston/Cambridge – USA). Desde 2012, o Fraunhofer tem em particular participado de todo o planejamento e execução do projeto de desenvolvimento do instituto, que contará com um investimento total de R$ 50 Milhões até 2015, passando de uma atual superfície de 300 m2 de laboratórios, para 2000 m2, em um novo prédio de 10.000 m2, que ainda contará com atividades de empreendedorismo inovador, e educação técnica e tecnológica. Em termos de recursos humanos, a previsão é de chegar a um corpo próprio de 15 pesquisadores até o final de 2015, todos orientados para o desenvolvimento de projetos industriais.
Desta forma, o Instituto Senai de Inovação, inserido em uma rede de pesquisa aplicada voltada para a excelência, e competitividade industrial, deverá se consolidar como uma ferramenta essencial de crescimento econômico, e consequentemente social, para o Brasil, focando a busca por uma indústria sempre mais inovadora, e por produtos de alto valor agregado.
Por Filipe Cassapo, gerente do Senai Centro Internacional de Inovação