Na contramão dos vizinhos do Sul e do resultado nacional, a produção industrial do Paraná voltou a crescer em maio. Segundos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), impulsionado principalmente pela fabricação de alimentos e bebidas para atender ao aumento da demanda no período de festas juninas, o indicador ficou 5% acima do registrado em maio do ano passado e em abril. O crescimento acumulado no ano é menor, 0,7%.
Santa Catarina e Rio Grande do Sul tiveram redução de 2,7% e 0,1% contra abril, respectivamente, e de 4,4% e 0,4% frente a maio de 2022. No ano, a produção industrial catarinense encolheu 4,5% e, a do Rio Grande do Sul, 6,4%. O indicador nacional também mostra sinais de desaquecimento, com queda de 0,4% este ano.
Para o analista de Assessoria Econômica e de Crédito da (Fiep), Evânio Felippe, mesmo com crescimento acumulado pequeno, o resultado na produção paranaense é positiva. “Estamos num cenário econômico ainda complexo, com juros elevados, percepção de baixo consumo pela população e com insuficiência de demanda. Mesmo assim, os indicadores estão em alta, o que já é uma boa notícia”, avalia.
Alimentos (10,6%) e bebidas (8,5%), além de petróleo (10%), são as atividades que impulsionaram os resultados frente a maio do ano passado. Das 13 avaliadas pelo IBGE, sete cresceram no período. E embora o segmento automotivo tenha crescido mais de 30%, assim como máquinas e equipamentos (11%), há uma explicação para eles. “Trata-se de um efeito estatístico”, diz. Segundo ele, na comparação de maio de 2022 frente a maio de 2021, o resultado do setor automotivo foi uma redução acentuada de 27% na produção, assim como o setor de máquinas e equipamentos, que tinha no mesmo período uma retração na produção de -8,5%. “Para ambos os casos a base de comparação agora é muito baixa em relação ao período anterior, dando uma falsa ideia de crescimento expressivo, mas que na verdade é uma recuperação”, completa. A fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos encolheu 31%, assim como madeira (-20%) e produtos químicos (-19%).
De janeiro a maio, o cenário não muda. Oito das 13 áreas pesquisadas estão com produção abaixo do esperado: madeira (-29%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-23%) e produtos químicos (-17%). Já petróleo lidera o crescimento com alta de 11%, seguido por móveis (8,7%), alimentos (8%), bebidas (3%) e automotivo (2,2%).
“Além das festas juninas e julinas, que ajudam a analisar o aumento da demanda por alimentos e bebidas e, consequentemente, a alta na produção destes itens nas fábricas, a retomada do setor de turismo, com as pessoas viajando mais, também contribuiu para aquecer a operação das empresas. O setor de serviços teve alta de 11% em transportes terrestres de passageiros e alta de 9,5% no transporte rodoviário de cargas, e de 12,6% na área de alojamento e 5,9% em alimentação (hospedagem). No comércio, setor de combustíveis e lubrificantes tem elevação de 15% este ano nas vendas do varejo, assim como de veículos e motocicletas, de quase 3%. “Esse comportamento em outros segmentos econômicos justifica os reflexos na indústria mesmo ainda num cenário econômico adverso”, argumenta Felippe. O resultado, para ele, poderia ser melhor se a taxa de juros, em patamares elevados, não afetasse tanto o consumo das famílias. “Com medo de assumir dívidas e cair numa cilada financeira, o consumidor evita comprometer sua renda com produtos de maior valor. Isso gera uma redução na demanda do país, tornando as indústrias mais ociosas”, afirma.
Confiança do industrial
Desde novembro do ano passado, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) está abaixo dos 50 pontos (na área de pessimismo). Em julho, somou 43,1 pontos, rompendo a tendência de crescimento registrada nos últimos dois meses. A redução frente a junho foi de 2,8 pontos. Na decomposição do indicador, o índice de condições – que mostra a percepção do empresário em relação à economia e os negócios nos últimos seis meses – ficou em 41,8 pontos. E o de expectativas – que faz a mesma análise para o futuro – chegou a 43,7 pontos. Enquanto o de condições subiu 0,2 pontos o de expectativas caiu 4,3.
“Este comportamento está atrelado às políticas restritivas de juros altos, para conter a inflação, e que ainda não têm uma previsão clara de relaxamento”, diz a também analista de Desenvolvimento Econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Mari Santos. “Mesmo diante da queda da inflação e da pressão do setor produtivo não houve uma sinalização do Banco Central de que os juros serão reduzidos nos próximos meses, o que acaba frustrando as expectativas dos empresários da indústria”, reforça Mari, com base no que detectou a pesquisa mensal do ICEI, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Fiep.
O ICEI geral da indústria poderia ser ainda mais pessimista não fosse influência da construção civil, que está com o indicador em 56,6 pontos, portanto, na área de otimismo, acima dos 50 pontos, numa escala que vai até 100. Ele só esteve na zona de pessimismo em dezembro do ano passado. Cresceu de janeiro a abril, chegando a 58,6 pontos, e vem oscilando de lá para cá, mas sempre acima dos 54 pontos.
“Mesmo num momento adverso da economia mundial, com a continuidade do conflito na Ucrânia, os juros altos nos Estados Unidos, a previsão de um menor crescimento da economia chinesa, principal mercado de destino das nossas exportações, dois grandes entraves para a retomada da indústria têm sido o custo do crédito no país e a insuficiência de demanda no mercado interno, ou seja, oriundo da redução no consumo aqui no país”, completa a analista da Fiep.