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Bolívar Lamounier defende a participação dos empresários na política

Bolívar Lamounier defende a participação dos empresários na política


Para Lamounier as seqüelas deixadas pelo Brasil colônia foram agravadas pela baixa representatividade dos líderes políticos atuais


A representatividade política brasileira e as seqüelas deixadas pelo Brasil colonial foi o ponto central da palestra que o sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier proferiu terça-feira (2), na Unindus. Foi a terceira palestra do programa Líderes Empresariais na Política, promovida pelo Sistema Fiep, através da Unindus.

Lamounier, que é diretor da Augurium Consultoria e Editora e assessor acadêmico do Clube de Madri (entidade integrada por ex-chefes de Estado), afirmou que embora a crise política de 2005 tenha despertado a sociedade para a política, a participação dos brasileiros é ainda baixa.
“Isso acontece não só nas classes menos favorecidas como também entre os empresários que, na verdade, deveriam ter uma participação mais contundente. Eles têm propriedade para isso”, afirmou.
O presidente do Sistema Fiep, Rodrigo Rocha Loures, que participou do evento, observou que o cenário de hoje é agravado pela falta de iniciativa. “Se as instituições funcionam mal é por omissão da sociedade, que permite que interesses personalistas encontrem espaço para isso”, disse Rocha Loures.

“Sabemos que há vontade e predisposição dos empresários em discutir a atual situação política e por isso estamos criando oportunidades para discussões”, explicou. Ele se refere a série de eventos que o Sistema Fiep vem realizando para criar um ambiente de diálogo. São exemplos o programa de formação de líderes, os debates políticos mensais e a formatação da Rede de Participação Política – pela qual os empresários podem opinar, participar e influenciar nas decisões políticas no Brasil.

“Não queremos um programa de proselitismo, mas sim criar uma massa crítica dentro da classe empresarial”, afirma Rocha Loures.
Para Bolívar Lamounier esse desejo existe e foi despertado porque nas últimas sete décadas o Brasil foi transformado de país colonizado para país extremamente desenvolvido. “Isso deixou um vácuo de informação entre os cidadãos. Na economia existe a sensação de perda do bonde, como se tivesse ficado algo no ar que não é compreendido”, afirmou o cientista político.

Ele defende que a democracia hoje existente parece ser até melhor do que a idealizada. “O eleitorado é muito grande, as coisas básicas de uma democracia estão no lugar. Mas não temos um nível de qualidade política melhor porque ainda existem as pequenas oligarquias. Há decepção com o nível de capacidade decisória”, diz.

Para Lamounier falta debate e troca de idéias. “As pessoas acreditam que a política ainda não as atinge, o que é uma ilusão”, diz. Segundo ele existe um ponto nevrálgico da situação política nacional, que é a gravíssima crise no quadro de lideranças.

“Antes tínhamos nomes de expressão nacional, porém hoje as pessoas políticas se formam por fatos políticos de relevância”. Mais que as influências do passado, os personagens atuais, segundo o cientista, não dão agilidade e respeitabilidade ao sistema político. Não há representatividade. “Isso é um perigo muito grande para um país que atravessa uma crise social como a nossa. A estabilidade superficial e incremental pode ter um subproduto muito sério: as instituições não melhoram porque o país não melhora”, completa.

Ele citou como  “contaminações” do passado o clientelismo, a força do Estado em detrimento da sociedade que é inativa. Agravam a situação problemas atuais, como o deslocamento demográfico, as oligarquias reforçadas pelo poder político de origem regional, e o coronelismo político, com distribuições indiscriminadas de retransmissoras de TV, o mau direcionamento de recursos políticos.

Lamounier destacou propostas para a reforma política, citando a verticalização, a cláusula de desempenho (que coibirá a proliferação de pequenos partidos) e a complementação da lei de fidelidade partidária. “Isso terá impacto na confiança política, pois não se dá respeitabilidade para quem não tem identidade estável”, afirma.

O programa Líderes Empresariais  na Política prossegue com palestras mensais até outubro deste ano. O próximo tema será Uma nova visão do desenvolvimento na Era do Conhecimento, apresentado pelo especialista em educação e economista Cláudio Moura Castro, que falará sobre o papel da educação básica e das políticas científicas e tecnológicas no desenvolvimento mundial e brasileiro.Mais informações e inscrições no site: www.unindus.org.br ou pelo telefone 3271-7700.

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