Luís Alberto de Abreu: ‘a arte teatral é efêmera e aí está a beleza dela’

Renomado dramaturgo brasileiro fala sobre acesso ao imaginário e a busca pela contemporaneidade

clique para ampliar Para Abreu, a arte da dramaturgia requer paciência e coragem (Foto: Rogério Theodorovy)

“A arte do dramaturgo não é a da escrita, da literatura. É a efêmera. A arte específica de quem organiza fundamentalmente as ações”, disse nesta terça-feira (30) o premiado dramaturgo paulista Luís Alberto de Abreu, autor, entre diversas outras obras, da peça O Livro de Jó e da minissérie para tevê Hoje É Dia de Maria. Abreu esteve em Curitiba para uma palestra aberta ao público sobre “O dramaturgo, sua arte e seu imaginário”, promovida pelo Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná. O Núcleo foi criado neste ano e tem como objetivo formar novos autores de peças teatrais. A palestra de Luis Alberto de Abreu foi uma atividade complementar de formação.  

Para Abreu, a arte da dramaturgia requer paciência e coragem: “Coragem de apostar no próprio caminho, na descoberta de sua pesquisa”. “Para estabelecer essa forma, é preciso ouvir a própria sensibilidade. O dramaturgo é feito disso: de ouvir o coração”, afirmou à plateia do teatro José Maria Santos – de quarta a sexta-feira (1º a 03), o autor ministrará workshop exclusivo aos participantes do Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná.

Um dos aspectos mais ressaltados por Abreu no encontro foi a necessidade do dramaturgo acessar o imaginário: “O imaginário não pertence ao artista. É algo para ser alcançado pelo artista. É um conjunto de imagens que define uma cultura e uma sociedade. É o que a sociedade crê, conserva e tem. O artista não consegue abarcar todo esse imaginário. Acessar esse imaginário é o trabalho fundamental do dramaturgo”, disse. Para Abreu, para se alcançar o imaginário é necessário caminhar em direção à cultura, “não só as que conhecemos e percebemos”. “O dramaturgo deve se mostrar permeável para ser penetrado por essas imagens para daí criar novas imagens. E quem sabe a imagem que ele criou comece a fazer parte do imaginário de seu povo”, completou.

O autor paulista também abordou na palestra a questão da contemporaneidade. “É uma discussão válida. Muitas vezes somos contemporâneos por viver o agora, enquanto estamos operando numa chave de 200 anos atrás”, disse. Na opinião de Abreu, a contemporaneidade é algo que deve ser buscado pelo dramaturgo: “Estamos montados em cima de nossa tradição. Mas nossos olhos têm que ir além dessa tradição. É preciso ter sensibilidade, pé na tradição e pulso no imaginário, no próprio momento”.

Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná – Iniciativa pioneira no Estado, o Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná integra a série de programas e ações da entidade para abrir aos trabalhadores das indústrias e à comunidade em geral o acesso a conhecimento e bens culturais.

A formação dos novos autores se dá por meio de workshops ministrados pelo dramaturgo carioca Roberto Alvim e também oficinas, palestras e encontros realizados ao longo do ano, por autores de renome nacional, como a paulista Marici Salomão.

O Núcleo de Dramaturgia tem o apoio do Sindicato das Indústrias de Áudiobvisual do Paraná e a parceria do Centro Cultural Teatro Guaíra, que cede um de seus espaços – o Teatro José Maria Santos -, para as atividades de formação de novos autores.

O projeto é inspirado no Núcleo de Dramaturgia Sesi São Paulo – British Council, lançado em 2007. O Conselho Britânico presta apoio cultural, trazendo para palestras em Curitiba os dramaturgos que vêm ao Brasil para participar das atividades do Núcleo de São Paulo. Uma das ações realizadas com apoio do British Council foi a mesa-redonda realizada, em abril, com as diretoras Roxana Silbert e Tessa Walker, da Paines Plough, uma das mais importantes companhias de teatro da Inglaterra, e o brasileiro Roberto Alvim.

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