Empresas paranaenses se preparam para ser fornecedoras da indústria naval

Lançamento do Catálogo Navipeças no Estado mostra oportunidades em um dos setores que mais deve crescer no país nos próximos anos

clique para ampliar Lançamento reuniu empresários no Cietep (Foto: Gilson Abreu)

Empresários paranaenses conheceram nesta terça-feira (8), em Curitiba, oportunidades para expandir seus negócios para a indústria naval. Eles participaram do lançamento no Estado do Catálogo Navipeças, portal na internet que vai reunir potenciais fornecedores para o segmento, em franca expansão principalmente por conta dos investimentos do setor de petróleo e gás. O evento foi uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), por meio de sua Gerência de Fomento e Desenvolvimento, com apoio da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), organizadoras do catálogo.

“O lançamento desse catálogo é um ponto marcante para o desenvolvimento industrial paranaense e nacional”, afirmou o superintendente-adjunto do Sistema Fiep, Sandro Vieira. “Por mais que não consigamos perceber, o desenvolvimento da cadeia de petróleo e gás e da indústria naval traz uma demanda de serviços para todos os setores da economia”, completou.

O coordenador do Catálogo Navipeças pela Onip, Jorge Bruno, conta que 483 embarcações de grande porte estão atualmente em construção ou com encomendas já contratadas nos estaleiros brasileiros. A maior demanda é da Petrobras, que vem ampliando os investimentos para viabilizar a exploração dos campos de petróleo do pré-sal. Apenas com os projetos em execução ou encomendados para a indústria naval, a empresa já tem comprometidos investimentos de R$ 55 bilhões para construção, entre outros itens, de sondas de perfuração, estaleiros, rebocadores, petroleiros e plataformas.

“Existe um quebra-cabeça sendo montado e com certeza as empresas paranaenses têm peças que se encaixam na indústria naval”, afirmou Bruno. “As empresas devem se enxergar na indústria naval porque precisamos preencher esse espaço urgentemente”, acrescentou. Para facilitar esse processo, a Onip e a ABDI elaboraram o Catálogo Navipeças. Após um estudo amplo sobre a indústria naval, foram definidas 21 categorias de bens e serviços demandados pelo setor. Dentro delas, estão mais de 1.800 itens utilizados na construção e manutenção de navios e plataformas.

Acessando o portal do catálogo – www.onip.org.br/navipecas – as empresas dos mais variados setores têm a possibilidade de descobrir se possuem produtos ou serviços que podem ser fornecidos para a indústria naval. Caso se encaixem no perfil, fazem o cadastro gratuito no site e enviam a documentação comprobatória para uma Comissão de Avaliação de Empresas (CAE). Aprovadas, passam a figurar no catálogo, ganhando visibilidade diante dos construtores de embarcações. “O exercício das empresas é analisar a lista e, passando pelo crivo da comissão, elas passam a ser potenciais fornecedores para a indústria naval”, afirmou Bruno.

Ele acrescentou que as possibilidades de fornecimento para a indústria naval estão abertas a praticamente todos os setores industriais. “Um navio, além de toda a parte de máquinas e tubulações, funciona como um hotel, precisando por exemplo de móveis e de uma cozinha industrial”, disse, explicando ainda que no máximo 30% dos componentes de um navio precisam seguir normas técnicas específicas.

Outra vantagem, segundo Bruno, é o fato de a indústria naval demandar produtos e serviços por longo prazo. “Um navio tem vida útil de 20 a 25 anos. Portanto, quem fornece para a indústria naval tem um cliente navegando por pelo menos esse período, sempre precisando de peças e serviços para reparações”, justifica.

Produto nacional

O surgimento do Catálogo Navipeças tenta também fazer com que os estaleiros possam reduzir as importações de produtos e serviços para construção de navios. “Trabalhamos pelo aumento do conteúdo nacional na produção”, afirmou Jorge Boeira, coordenador do catálogo pela ABDI, agência ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. “Mas não queremos um conteúdo nacional a qualquer custo. É preciso qualidade e competitividade”, ressaltou.

O representante da ABDI disse ainda que o catálogo é uma ferramenta para que a cadeia de fornecedores não se torne um entrave para o crescimento da indústria naval brasileira. “O setor de navipeças é um dos gargalos que podem resultar em problemas para o desenvolvimento da indústria naval da forma como se imagina. Hoje, existe um grande desconhecimento dos fornecedores mais básicos. Justamente por isso, existe um sem número de oportunidades que podem ser exploradas a partir do catálogo, e espero que os empresários paranaenses apostem nele”, declarou.

Além de facilitar o relacionamento entre estaleiros e fornecedores, o Catálogo Navipeças tem também um caráter estratégico, que pode ajudar na criação de programas de fomento para a indústria naval, conforme explica Rogério Boeira, do departamento de petróleo e gás do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “É muito importante que as empresas se cadastrem no catálogo, porque além de entrar em contato com os estaleiros, há um fator de política industrial nele. Só conseguimos criar um novo programa de financiamento no banco se tivermos números da indústria, e por isso queremos mapear a capacidade da indústria naval e seus fornecedores”, disse.

Rogério Boeira destacou ainda a importância de tanto os estaleiros quanto os fornecedores investirem em pesquisa, desenvolvimento e inovação para a indústria naval. “O Brasil já teve a segunda maior indústria naval do mundo, em 1980, muito próximo da Alemanha. O que faltou foi uma política de pesquisa e desenvolvimento”, afirmou.

Oportunidades

Para as empresas que participaram do lançamento do Catálogo Navipeças no Paraná, a indústria naval realmente é vista como uma oportunidade para novos negócios. É o caso da Daiken, empresa com sede em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, que atualmente produz computadores de bordo e softwares para locomotivas. “O mais interessante do catálogo é o fato de estar preocupado em desenvolver fornecedores nacionais. Isso já aconteceu conosco no segmento de locomotivas, em que os computadores e softwares eram todos importados e passamos a produzir produtos nacionais”, contou o gerente comercial da Daiken, Rodrigo Reggiani. “Acreditamos que na área naval podemos desenvolver algo semelhante”, completou.

Outro que busca oportunidades na indústria naval é o engenheiro Lauro Mathias Neto, proprietário da Vetor Tecnologia, com sede em São José dos Pinhais, também na Região Metropolitana de Curitiba. “Esse encontro foi muito oportuno para nossa empresa, que é do setor metalúrgico e vem buscando oportunidades no segmento da indústria naval. O catálogo vai nos dar visibilidade e é importante porque ainda precisamos amadurecer esse mercado, já que as empresas têm pouco conhecimento sobre ele”, afirma.

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