
Empresários das indústrias de móveis de Curitiba e Região Metropolitana conheceram nesta quarta-feira (10) a proposta de criação de uma central para destinação e reciclagem dos resíduos gerados pela produção do setor. O projeto foi elaborado pelo Senai Empresas, área do Senai Paraná que presta serviços técnicos e tecnológicos, a pedido do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Paraná (Simov). A partir de agora, serão buscadas parcerias e formas de financiamento que viabilizem a implantação da estrutura.
A apresentação da Central de Resíduos do Setor Moveleiro aconteceu durante um workshop realizado na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em Curitiba. O coordenador do projeto, Constantino Bezeruska, conta que as cerca de 1.400 indústrias do setor instaladas na capital e região são responsáveis pela geração diária de aproximadamente 144 toneladas de resíduos. A maior parte – 122 toneladas – é de resíduos de madeira. O restante se divide entre peças de metal, artigos têxteis, plástico, papel e papelão, vidro e vernizes, entre outros. Os números são uma projeção feita pelo Senai após a implantação do Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) em 20 empresas do setor, uma das principais etapas do estudo, concluída em março deste ano.
“Hoje não temos nenhum sistema de destinação correta desses resíduos da indústria moveleira de Curitiba. Por isso o Simov nos procurou pedindo um projeto para a criação de uma Central de Resíduos, necessidade que se tornou ainda mais urgente depois da aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos”, afirma Bezeruska, referindo-se à lei 12.305, sancionada em agosto pelo presidente Lula e que ainda depende de regulamentação. “Mais dia ou menos dia, o setor vai precisar se adequar às novas exigências e precisamos conscientizar os empresários sobre o uso sustentável da madeira e a redução na geração dos resíduos”, acrescenta.
Pelo projeto, a central funcionará principalmente como uma usina de reciclagem de resíduos da produção, especialmente a madeira. A ideia é que as sobras do material sejam trituradas e transformadas em briquetes e pellets, que serão vendidos para empresas de diversos setores que utilizam esses produtos como combustíveis para fornos industriais. Desenvolver pesquisas próprias ou em parceria com universidades na busca por novas alternativas e tecnologias de tratamento dos resíduos mais críticos será outro objetivo da central. Além disso, ela servirá para o adequado armazenamento de resíduos contaminados, que não podem ser reaproveitados e nem descartados na natureza.
O próximo passo do projeto é a busca por mecanismos de financiamento que viabilizem a construção da central. O empreendimento tem um custo total estimado em R$ 4,8 milhões, incluindo as obras de construção civil e compra de equipamentos. Mas metade do valor se refere à compra de um terreno para abrigar a estrutura. Por isso, os coordenadores do projeto buscam parcerias com prefeituras da Região Metropolitana que se tenham interesse em abrigar a central.
Sustentabilidade
A estrutura de Curitiba será semelhante à que já existe em Arapongas, principal polo moveleiro do Paraná. Criado há quase 10 anos pelo Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), o Centro de Tecnologia em Ação e Desenvolvimento Sustentável (Cetec) conta com 103 empresas associadas, que geram cerca de 300 toneladas de resíduos por dia. Constituído como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), o Cetec tem atualmente 130 funcionários e se mantém principalmente pela venda de briquetes e pallets para indústrias, inclusive gerando lucro que é repartido entre as associadas.
Para o vice-presidente do Simov, Luiz Fernando Tedeschi, mais do que uma nova fonte de renda, os empresários de Curitiba e região devem enxergar a Central de Resíduos como uma oportunidade para colocar a sustentabilidade na pauta do setor. “O empresário não tem só um ganho financeiro, mas o sossego de saber que tem uma empresa produzindo de maneira correta e contribuindo com o futuro”, afirma. “Vemos também como importante a conscientização dos empresários para o uso de materiais que causem menos danos ambientais”, acrescenta.
Para Tedeschi, entre as empresas de móveis da capital e municípios vizinhos existem atualmente diferentes níveis de comprometimento com a questão do gerenciamento de resíduos. “Esse ainda é um trâmite muito complicado para que as empresas façam individualmente, até porque tem um custo elevado. Por isso nós do Simov notamos a necessidade de criarmos uma central que fique responsável pelo gerenciamento desse processo”, explica.
Exemplo
A gestão unificada dos resíduos já vem sendo adotada em outros setores industriais no Brasil. Um dos casos mais bem sucedidos é o da Central de Triagem da Indústria de Calçados do município de Três Coroas (RS). O histórico da central, criada em 1996, foi apresentado durante o workshop na Fiep pela gerente da unidade, Giovana Ruppenthal. “Não queríamos apenas uma central para cumprir as exigências dos órgãos ambientais, mas uma que fosse além”, diz. Atualmente, a estrutura recebe 290 toneladas de resíduos por mês, gerados em 93 empresas de calçados femininos instaladas na região. Em média, 70% do material são reciclados e vendidos como matéria prima para outros setores industriais. O restante é armazenado em aterros próprios, que são constantemente monitorados para evitar qualquer tipo de contaminação.
A central gaúcha também investe em uma série de programas socioambientais, envolvendo toda a comunidade. Segundo Giovana, o trabalho não teria alcançado os objetivos se não houvesse o comprometimento dos funcionários das indústrias e de outras pessoas envolvidas no processo produtivo. No início, porém, ela afirma que houve certa dificuldade para conscientizar os colaboradores das empresas. Houve ainda certa resistência por parte de alguns empresários, já que a criação de uma central necessita de investimentos. “Ela tem um custo, que não é barato, mas no fim das contas também não chega a ser tão caro assim”, declara.
Além da apresentação do case de Três Coroas, o workshop desta quarta-feira teve uma palestra com o coordenador do Conselho Temático de Meio Ambiente da Fiep, Roberto Gava. Ele falou sobre os impactos que a Política Nacional de Resíduos Sólidos terá sobre o setor produtivo e pediu a mobilização da indústria para que suas reivindicações sejam atendidas no decreto que regulamentará a nova lei. “A regulamentação está sendo redigida por vários ministérios, mas sem a participação da sociedade. Por isso estamos pedindo, inclusive através da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que seja realizada uma consulta pública antes da publicação do decreto”, explica.