Painel sobre Arranjo Educativo discute novos espaços de aprendizagem

José Pacheco, Tião Rocha, Nilton Lessa, Luiz Fernando Guggenber e Ana Beatriz Goulart participaram da roda de conversa, intermediada pelo diretor do Sesi Paraná.

Uma roda de conversa sobre Arranjos Educativos Locais reuniu na quinta-feira (19), durante a CICI 2011, educadores de renome no Brasil: o Antropólogo, educador popular e folclorista, Tião Rocha; o educador e mentor da Escola da Ponte, de Portugal, José Pacheco; a arquiteta, educadora e consultora do programa Mais Educação do Governo Federal, Ana Beatriz Goulart; o publicitário e responsável pela área de responsabilidade socioambiental da Vivo, Luiz Fernando Guggenber, e o especialista em tecnologias de educação e comunicação, Nilton Lessa. Eles falaram sobre suas experiências em projetos educacionais inovadores, desenvolvidos fora do ambiente escolar tradicional e envolvendo a participação ativa da comunidade. O painel teve a intermediação o diretor superintendente do Sesi-PR, José Antônio Fares, e a participação do diretor regional do Senai-PR, João Barreto. Um dos principais pontos do debate foi o projeto que o Sistema Fiep, por meio do Sesi e a participação do Senai, desenvolve  em Campo Largo, na CIC e no bairro Portão em Curitiba, desde 2009. Os educadores participantes da roda de conversas compõem o Conselho de Especialistas deste Arranjo Educativo Local. Na sexta-feira, os participantes do diálogo na CICI, além do especialista em desenvolvimento local, Ladislau Dowbor (também do conselho de especialistas) se reuniram com a equipe do Sesi para avaliar o andamento do projeto e definir novos caminhos e novas ações. “Nossa entidade vem buscando criar condições para que o processo de educação seja permanente, com geração de conhecimento de todas as formas e modalidades”, disse Fares, ao abrir a roda de conversa.

Ele explicou que o projeto de Arranjo Educativo desenvolvido pela entidade, articula e estimula a participação da sociedade na busca do conhecimento contínuo, através das empresas, do poder público, entidades do terceiro setor e lideranças da própria comunidade. “Estamos baseados nas dimensões da UNESCO, de educação transformadora, do conhecimento contínuo e compartilhado”, explicou.

Para o diálogo durante a CICI, Fares solicitou aos educadores que abordassem a questão “o aprender ao longo da vida, com experiências que favorecem ambientes de convivência e autonomia, refletindo na comunidade”. Para Luiz Fernando Guggenber, a agenda de aprendizagem deve isenta de hierarquia e burocracia, para favorecer a participação da comunidade e estimular novas idéias e propostas.

Ele falou sobre uma experiência particular, que reunia tocadores de violão, de diferentes idades e estilos, cujo prazer era tocar. “Tivemos a idéia de criar uma organização não governamental, que recebeu recursos para adquirir instrumentos e estruturas. Isso exigiu hierarquia e burocracia, o que prejudicou o capital social, que era a confiança mútua e a camaradagem”, contou ele.

Ana Beatriz Goulart falou sobre suas experiências como arquiteta, em projetos voltados à educação e pesquisa, em especial sobre como  a criança constrói a imagem de cidade na escola. “No modelo tradicional da escola, é como tivesse um mataburro no portão, que impede que a cultura da cidade entre. No futuro, a busca será por espaços onde a criança possa brincar, pensar, criar e trocar idéias”, disse ela. “É preciso juntar as pessoas na escola, dentro e fora dela”, afirmou.

Para Nilton Lessa, houve, há tempo, uma cisão malévola entre o espaço do fazer e o espaço do aprender. “É possível produzir coisas e fazer a transmissão do conhecimento, com o convívio da liberdade, fraternidade e respeito. Não pode haver cidade educadora sem que os espaços propiciem compartilhamento de conhecimento”, disse ele. Lessa afirmou ver no conceito de Arranjo Educativo uma tentativa de dar solução a esse dilema, resgatando, na prática, e não apenas no discurso, o conceito grego de cidades como espaço de convívio e aprendizagem.    

 O educador, José Pacheco, falou sobre a Escola da Ponte, em Vila das Aves, Portugal, idealizada e implantada por ele, que se notabilizou pelo projeto educativo inovador, baseado na autonomia dos estudantes, na liberdade e na fraternidade. “Acredito que a escola não muda a sociedade, mas com a sociedade”, disse ele. “Não concordo que a escola deva desaparecer. É preciso agir na escola e transformá-la”, afirmou.

Uma alternativa pedagógica que cria espaços de aprendizagem em locais inusitados foi o foco da fala de Tião Rocha, que deixou a carreira de professor universitário para se dedicar à educação inovadora. “Partimos da pergunta se era possível fazer educação sem escola, no sentido físico. Já que a lógica era que você só podia fazer educação se houvesse escola e se era possível l fazer uma escola embaixo de um pé de manga”, contou.

“A experiência teve êxito, já foi avaliada, testada e recomendada internacionalmente como modelo de educação porque se descobriu o óbvio: para fazer educação de qualidade, você só precisa de gente de qualidade”, explicou. “São as pessoas que fazem a educação. O espaço físico é importante, sim, mas não significa que não se possa fazer boa educação sem ele”.

O projeto, que começou em Curvelo, Minas Gerais, foi implantado no Vale de São Francisco, no Vale de Jequitinhonha, em Vitória, em Porto Seguro (BA), no Maranhão e em Moçambique, na África. “Tudo é discutido e avaliado em roda. Na roda, giram todos os processos de aprendizagem”, explicou Tião.

Fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), uma organização governamental que visa a promoção da educação popular e do desenvolvimento comunitário a partir da cultura, Tião Rocha diz que é possível à comunidade ter autonomia. “Toda experiência que adquiri com o CPCD mostra que quanto maior for o entendimento da comunidade de que ela pode caminhar com as próprias pernas, maior o processo de empoderamento no qual os indivíduos tomam consciência de sua competência para produzir, criar e administrar”, explica.

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