Mais de 100 representantes de entidades da sociedade civil organizada paranaense decidiram, durante reunião na manhã desta quinta-feira (17), na Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), em Curitiba, elaborar um manifesto conjunto em repúdio à nomeação do ex-presidente Lula no ministério da Casa Civil e pedindo o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. As entidades se posicionaram ainda em apoio a todas as ações de combate à corrupção em andamento no Brasil e pela defesa irrestrita da manutenção do Estado Democrático de Direito e dos princípios constitucionais.
“Neste encontro ficou clara a indignação, praticamente unânime, em relação ao que está acontecendo em nosso país”, afirmou o presidente do Sistema Fiep, Edson Campagnolo. “Uma indignação contra tudo o que estamos presenciando em assuntos de ordem política, de ética e de valores, especialmente pela questão da corrupção”, completou. Ele ressaltou que a insatisfação das entidades com o cenário político brasileiro cresceu ainda mais após as revelações desta quarta-feira (16) sobre os bastidores da nomeação de Lula na Casa Civil. “Está muito claro que o objeto dessa nomeação é justamente obstruir o trabalho da Justiça. Mais de 6 milhões de pessoas foram para as ruas no dia 13 de março mostrar sua indignação. Ao invés de a presidente ouvir a população, respondeu com uma medida como essa”, disse.
Sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma, Campagnolo explicou que as entidades apoiam o andamento do processo no Congresso Nacional, desde que respeitados todos os aspectos legais e constitucionais. E também defendeu que ela deixe o cargo. “Que a presidente Dilma ou tome a iniciativa de uma demissão voluntária, ou então estaremos apoiando, dentro do Congresso Nacional, sua saída devido a esses últimos acontecimentos”, declarou o presidente do Sistema Fiep.
Além disso, as entidades pedem o fim da corrupção no país. “Declaramos apoio ao combate à corrupção em todos os níveis, seja pela operação Lava Jato, seja por outras operações em andamento, inclusive aqui no estado do Paraná. Refutamos a corrupção, defendemos que a Justiça seja feita e os culpados sejam punidos”, afirmou.
O manifesto das entidades deve ser publicado nos principais veículos de imprensa do Paraná até este fim de semana. Além disso, elas pretendem formar um grupo de lideranças para ir até Brasília e entregar o documento a todos os parlamentares da bancada paranaense no Congresso Nacional. A realização de outras ações de mobilização também está sendo estudada.
A reunião desta quinta-feira teve a participação de inúmeras entidades representativas do setor produtivo e de classe do Estado. Entre elas, Fecomércio, Fetranspar, ACP, Faciap, OAB-PR, Aecic, sindicatos empresariais de vários setores industriais, além de instituições que representam categorias como engenheiros, contabilistas e agrônomos. Lideranças religiosas também participaram do encontro, como o arcebispo de Curitiba, dom José Antônio Peruzzo, e o pastor Paschoal Piragine, da Primeira Igreja Batista da capital. Também marcaram presença duas entidades de representação de trabalhadores: a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a Federação dos Trabalhadores da Indústria do Paraná (Fetiep).
O arcebispo destacou o momento delicado vivido pelo país e a forte polarização nas discussões políticas. “Agora é preciso não combater adversários, mas buscar o que é melhor para o país. Não me parece que nesses últimos dias os caminhos em benefício do futuro do país tenham sido a grande inspiração das escolhas e das opções”, afirmou Peruzzo. Opinião parecida com a do pastor Piragini, para quem o país não pode correr o risco de passar por uma convulsão social. “Acredito na prudência. Nenhum de nós quer violência e nem quebra da Constituição, mas precisamos ter coragem de mostrar o caminho, sem conotação partidária”, disse.
Já a secretária-geral da UGT, Iara Freire, disse que o Brasil precisa de mudanças para retomar a confiança de investidores e reverter o quadro de desemprego no país. “Infelizmente, o que vem acontecendo é o desemprego. Com toda essa situação que o país vem vivendo, quem está pagando a conta são os trabalhadores. A corrupção está institucionalizada no país e o Brasil está desacreditado, não tem mais investimento”, disse. Para ela, o impeachment poderia ser o primeiro passo para que o país mude. “Se não tentarmos, não vamos saber”, concluiu.