Estabilidade econômica em longo prazo só virá com combate à corrupção, diz Dallagnol

Em palestra na Fiep, coordenador da força-tarefa da Lava Jato falou sobre os danos que os desvios de recursos públicos causam ao desenvolvimento e à democracia do país

O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato, afirmou, durante palestra na Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), que o país dificilmente alcançará estabilidade econômica se não encontrar meios efetivos para combater a corrupção. “Por vezes, algumas leituras querem indicar que o combate à corrupção e as investigações geram uma instabilidade (econômica). Mas a verdade é que a estabilidade às custas da permanência da corrupção é uma estabilidade falsa, porque daqui a 5, 10 ou 15 anos podemos ter outra Lava Jato e outro tumulto imenso”, afirmou.

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Dallagnol fez uma palestra nesta terça-feira (11) na assembleia geral do Conselho de Representantes da Fiep, que reúne presidentes e delegados dos sindicatos filiados à entidade. Para o procurador, não há meio de a economia brasileira se estabilizar em longo prazo se não forem reduzidos os impactos da corrupção. “Estudos internacionais mostram que quanto mais elevados os índices de corrupção, pior é o índice de desenvolvimento econômico e social de um país”, disse. “A corrupção faz com que a empresa que corrompe largue na frente das demais, de modo injusto. Isso faz com que os países mais corruptos sejam também aqueles que menos têm empresas competitivas no mercado global. Precisamos enfrentar a corrupção de vez para que possamos ter uma estabilidade real e um ambiente propício para que nossas empresas possam desenvolver de modo regular suas atividades”, completou.

Para o procurador, isso só acontecerá se houver envolvimento do meio empresarial, criação de leis que punam com efetividade a corrupção e alterações no sistema político brasileiro. “Isso envolve mudança de cultura, inclusive empresarial, com a implantação de programas de compliance; isso envolve mudança de uma tradição de impunidade, com reforma das leis; isso envolve também mudanças no sistema político, cujas engrenagens hoje estimulam a prática de corrupção para arrecadar propinas usadas para enriquecimento pessoal e financiamento de caríssimas campanhas eleitorais”, afirmou.

Dallagnol criticou ainda o fato de muitos políticos tentarem justificar os desvios alegando que se trataria de caixa 2 eleitoral, como se isso os isentasse de culpa pelos desvios de recursos públicos. Na opinião do procurador, essa situação causa danos severos à própria democracia brasileira, uma vez que dificulta que pessoas bem-intencionadas e alheias aos esquemas de corrupção entrem na vida política. “A corrupção inocula em nossas veias um veneno chamado cinismo, e você passa a não acreditar nas instituições. E a vida em sociedade é inviável se não existe confiança”, declarou.

O coordenador da Lava Jato comentou ainda sobre as tentativas de desvirtuamento das 10 Medidas Contra a Corrupção, pacote de propostas que tem como objetivo aumentar a prevenção à corrupção, diminuir o índice de impunidade e recuperar o dinheiro desviado. “Quando esse pacote de propostas se tornou público, houve críticas pontuais a três ou quatro propostas, ou a pedaços delas, que se tornaram um pouco mais polêmicas. Isso acabou dando voz para aqueles que queriam criticar o pacote como um todo. Por isso hoje nós queremos que essas partes polêmicas sejam deixadas de lado para que as medidas possam avançar sem freios, possam ser discutidas, eventualmente melhoradas e aprovadas no Congresso”, explicou. “A sociedade toda tem essa expectativa desde três anos atrás, quando a Lava Jato veio à tona. Contudo, não vieram ainda respostas adequadas por parte do Congresso Nacional”, acrescentou.

Por fim, Dallagnol fez um apelo para que toda a sociedade se envolva no combate à corrupção e cobre providências da classe política para que se adotem medidas que minimizem as possibilidades de desvios de recursos no país. “Nós precisamos cada vez mais ter, como sociedade, músculos fortes. O Brasil é conhecido como um país com um Estado forte e uma sociedade civil fraca. Precisamos inverter um pouco essa equação para que nós possamos abandonar essa situação de vítimas da nossa história e passar a sermos protagonistas do nosso futuro. Que nós, como sociedade, possamos construir o futuro em que nós acreditamos e com que sempre sonhamos”, afirmou.

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