A indústria encerrou o ano passado com 15.271 novas vagas de trabalho abertas no Paraná. Foi a terceira atividade econômica que mais abriu oportunidades, superada pelo setor de serviços (77 mil) e de comércio (21 mil). Mesmo com alta na oferta, o saldo de empregos (admissões menos os desligamentos) caiu 65% em relação a 2021, quando chegou a 44.430 novos contratados. Mesmo assim, houve aumento de 2,2% na quantidade total de trabalhadores atuando no setor industrial em 2022, o chamado estoque. Atualmente, são quase 717 mil pessoas em atividade na área contra 701 mil no ano anterior. A indústria nacional criou 251,9 mil vagas no ano passado, 47% menos do que o registrado em 2021. Os números foram divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Governo Federal.
“Todos os grandes setores da economia criaram vagas no Paraná no ano passado. Mas houve perda no dinamismo. A atividade industrial desacelerou ao longo dos últimos meses em função da queda no ritmo de produção nas fábricas”, informa o economista da Fiep, Evânio Felippe. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de janeiro a novembro de 2022, a produção industrial do estado caiu 3,8% e, no período de 12 meses, 3,3%. Estes resultados, segundo Felippe, impactam diretamente no mercado de trabalho. “Enquanto as admissões na indústria ficaram estáveis, as demissões do setor cresceram 10% no período”.
A trajetória de redução na produção industrial é decorrente de diversos fatores, explica o economista. O conflito geopolítico na Ucrânia aumentou de forma generalizada o preço de vários insumos e matérias-primas utilizados nas fábricas, impactando nos custos de produção. Some-se a isso a alta no preço do petróleo, da energia e a volatilidade do dólar, que influencia no custo de vários produtos utilizados pela indústria. A oscilação da moeda americana frente ao real variou de R$ 5,5338, em janeiro de 2022, maior valor do ano, para até R$ 4,7577 em abril do mesmo ano. A partir de então, manteve a trajetória de alta ao longo do ano”, exemplifica Felippe.
Outros fatores de ordem macroeconômica também são responsáveis pela estagnação nas contratações em 2022. “Tivemos um cenário de forte elevação da inflação no Brasil e no mundo, o que afeta o consumo das famílias e, por consequência, limita as vendas no varejo, reduzindo produção das empresas”, explica. Ele cita ainda a taxa básica de juros. “Os sucessivos aumentos promovidos pelo Banco Central para tentar controlar a inflação tornaram o custo do crédito mais caro no mercado”, diz. “Penaliza tanto o consumidor quanto o empresário, que tem maior dificuldade para buscar recursos para manter o fluxo de caixa, como também os que buscam recursos para investir em seus negócios”, completa.
O cenário político em 2022, com eleições majoritárias polarizadas, também aumentou as incertezas. “Num cenário de instabilidade, o empresário fica mais cauteloso e diante de um dilema. O investimento constante é fator primordial na indústria para garantir a competitividade e se manter vivo no mercado. Por outro lado, o temor do endividamento também preocupa”, resume o economista da Fiep.
Atividades industriais
Dos 24 segmentos da indústria de transformação avaliados pelo Novo Caged, seis tiveram redução nas contratações no ano passado no Paraná. Madeira foi a que teve maior impacto, com o fechamento de 2.820 postos de trabalho. Na sequência vem móveis (-1.743), minerais não metálicos (-112), produtos têxteis (-125) e, igualmente, fumo e outros equipamentos de transporte (-42).
Já o setor alimentício liderou o ranking de admissões com saldo de 6.394, totalizando 209,6 mil trabalhadores atuando no mercado paranaense (estoque). Um crescimento de 3,15% frente ao resultado obtido em 2021. Máquinas e equipamentos vêm na sequência, com 1.899 novas vagas. Depois seguem manutenção e reparação de máquinas e equipamentos (1.471), fabricação de produtos de metal (1.450), produtos químicos (1.361), automotivo (1.352) e celulose e papel (1.264).
Perfil dos contratados
A indústria continua tendo preferência por um perfil mais jovem e qualificado. O gênero masculino também é dominante. Mas, embora eles representem 65% das admissões totais e elas 35%, a diferença entre eles cai quando se avalia quem se manteve no emprego ao longo do ano. Do saldo de 15.271 trabalhadores em atividade na indústria paranaense (resultado de admissões menos os desligamentos), 53% são homens e 47% são mulheres. A preferência por jovens com maior qualificação também chama a atenção. Noventa e três por cento do saldo atual estão na faixa etária entre 18 e 24 anos e 86% já completaram o Ensino Médio.