1. Inovação – A Chave da Competitividade Industrial com Sustentabilidade
“Inovar para Competir. Competir para Crescer”. Tal tem sida a lema do Plano Brasil Maior, promovido pelo Governo Federal para estabelecer a sua política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior . Efetivamente, no atual contexto internacional de negócios, as empresas brasileiras têm sido desafiadas por um conjunto de fatores sistêmicos de competitividade, somados a imperativos de sustentabilidade, cuja resposta necessariamente é, na era da Economia do Conhecimento, da Economia Criativa, a Inovação.
Ao falarmos em variáveis sistêmicas impactantes para a competitividade das nossas indústrias, temos tipicamente reconhecido:
• Uma carga tributária alta que pesa nos custos gerais da empresa;
• Carências em termos de logística e infraestrutura, que da mesma forma impactam na componente custos das Indústrias;
• Certo aquecimento do mercado da mão de obra “especializada” (tal como engenheiros);
• Uma competição claramente internacional, impondo necessariamente a internacionalização de todas as nossas empresas (que se não forem para exterior, podem ter certeza que o exterior virá a elas!)
Somamos a estas considerações o importante reconhecimento de que as MPEs (Micro e Pequena Empresas) são das mais relevantes no contexto econômico Brasileiro (alias, no contexto econômico de todas as nações):
O que, portanto, fazer neste contexto? Competir por preços? Reduzir, sempre reduzir, margem, custos, operação? Este parece mais ser o caminho de fim de um negócio do que do seu crescimento. E porque não aumentar o numerador da equação da competividade (a lucratividade) em vez de apenas reduzir seu denominador (os custos)? Porque não buscar a diferenciação, a descomoditização, e a constante procura pela agregação de inteligência, de conhecimento aos nossos negócios? “Inovar para Competir. Competir para Crescer”.
Obviamente, competir, crescer, não deve se dar a qualquer custo. Em particular, não ao custo irreparável e suicídio da destruição talvez irreversível da biosfera da qual todos somos biologicamente interdependentes. Não ao custo autodestrutivo do desrespeito ético, social e cultural, da renuncia a busca pelo bem estar e da dignidade humana, e pela saudável diversidade que (tal como a biodiversidade) constitui nosso maior patrimônio para nos adaptarmos criativamente a um futuro definitivamente incerto! Sustentabilidade, como sabemos, se conjuga no plural: econômica, social e ambiental. Como equilibrar, portanto, esta complexa equação? A resposta está na substituição dos termos: “Inovar para Competir” e “Competir para Crescer” implica “Inovar para Crescer de forma sustentável”.
2. O que entendemos exatamente, por “Inovar”?
Destacamos a Inovação como a grande força propulsora e renovadora das nossas indústrias, do nosso comercio, das nossas instituições, e, consequentemente, do nosso crescimento sustentável. Um estudo realizado em 2005 pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com 72 mil empresas com mais de dez funcionários demonstrou que, apesar de representarem apenas 1,7% da indústria, as empresas que inovam são responsáveis por 25,9% do faturamento industrial no Brasil, e por 13,2% do emprego gerado!
Necessitamos, porém, esclarecer o que entendemos por Inovação. Trata-se de Ciência, de Pesquisa, de Desenvolvimento, de Patentes, de Design, de Tecnologia, de modelos Negócios? De todos estes ao mesmo tempo? Para tentar responder a esta interessante pergunta, propomos a seguir algumas definições:
1. “Inovar = novas ideias + ações que produzem resultados. A Inovação consiste em uma nova ideia implementada com sucesso, que produz resultados econômicos.” (Ernest Gundling: The 3M Way to Innovation)
2. “A Inovação é um processo de destruição criativa, impulso fundamental que estabelece e mantém a maquina capitalista em movimento. Vem dos novos produtos, novos métodos de produção ou transporte, novos mercados, novas formas de organização que a empresa cria….” (Schumpeter)
3. “Inovação é a implementação, com sucesso, de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um novo processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.” (Manual de Oslo )
Para sumarizar, e posicionar nossa proposta, poderíamos sugerir a seguinte definição:
“Inovar consiste em transformar conhecimentos contextualmente novos em resultados sustentáveis”.
Esta simples frase implica logicamente em uma série considerações a respeito de diversos temas conexos:
1. Inovar não é mais do mesmo, mas sim a utilização de conhecimentos contextualmente novos para gerar valor aos negócios de uma organização;
2. A Ciência e Pesquisa são condições necessárias, porém não suficientes para a Inovação (ou seja, sem ciência e pesquisa, não existirá conhecimento novo, porém, a simples existência e disponibilidade de conhecimentos novos não garanta o fenômeno de inovar, que necessita a utilização de tais conhecimentos, de forma bem sucedida, para fins produtivos);
3. Inovação não consiste apenas e estritamente em criar produtos novos, mas sim em gerar valor sustentável de negócio por meio da utilização de conhecimentos novos, em todos os domínios de uma Empresa (produto, processo, cadeia, experiência do consumidor, etc.);
4. Gerar patentes não é equivalente a inovar. Para falarmos em inovação, a patente deve ser objeto de utilização para fins produtivos, e gerar consequentemente valor sustentável de negócio. É com certeza possível inovar sem gerar patentes, reconhecendo, porém, que patentes, quando estrategicamente utilizadas, gerarem logicamente valor de negócio;
5. Desenvolver tecnologias novas não é equivalente a inovar. Para falarmos em inovação, novamente, a tecnologia deve ser objeto de utilização para fins produtivos, e gerar consequentemente valor sustentável de negócio. É novamente possível inovar sem ter ou desenvolver uma tecnologia nova. Inovar consiste em gerar valor sustentável, e podemos, portanto, criar um modelo de negócio inovador com base em tecnologias já existentes;
6. O conhecimento novo utilizado para inovar é contextual, de forma que, aprender com o que outros (outras organizações, outros países, outros setores) já sabem é efetivamente uma fonte de inovação, a partir do momento que isto seja feito de forma ética, respeitando regras de propriedade intelectual e comercio, e que, novamente tal “conhecimento contextualmente novo”, seja utilizado para fins produtivos, gerando valor sustentável de negócio;
7. O Empreendedorismo é o comportamento-chave da inovação: ele é exatamente a atitude empresarial de arriscar na geração e na utilização de conhecimentos contextualmente novos para criação de valor por meio de um negócio que compete pela diferenciação.
Advogamos, portanto, e obviamente, em favor da fundamental parceria pública-privada, universidade-empresa, destacando a importância do empreendedor, e reconhecendo o papel das instituições públicas em promover um ambiente legal e econômico favorável, que incentiva tais parcerias, bem como o protagonismo privado em investir no processo de inovação.
3. Os Desafios da Articulação entre a Ciência e o Empreendedorismo
Para crescermos, necessitamos competir. Para competir de forma sustentável, necessitamos inovar. Para inovar, necessitamos criar ou assimilar conhecimentos novos úteis de um ponto de vista produtivo, e tentar garantir de todas as formas que tal conhecimento será utilizado no setor produtivo, e gerará valor sustentável para os negócios das Empresas, valor que por sua vez se reconverterá em crescimento social justo e ético.
Como anda, portanto, a Ciência Brasileira? Sempre melhor, em um atual contexto em que o Brasil representa cerca de 2,7% dos papers científicos publicados em periódicos indexados:
E como anda a inovação, ou seja, a conversão do conhecimento gerado em criação de valor sustentável de negócio nas empresas? Infelizmente, ainda bem fraca…
Reconhecemos um baixo protagonismo e investimento em inovação…
Reconhecemos uma baixa inserção dos pesquisadores nas empresas…
E consequentemente, verificamos uma baixa geração de patentes (apesar de posicionarmos o fato que inovar não consiste em patentear, observar a quantidade de patentes depositadas no USPTO tem sido uma boa aproximação da situação do tema inovação).
Finalizando este raciocínio quantitativo, uma das consequências econômicas dos dados aqui apresentados é de que o peso de produtos básicos atingiu 47,8% do total da pauta exportadora brasileira em 2011 . Não se trata aqui de julgar ou criticar a importância das comodities, que como sabemos, mas de reconhecer que, na Era do Conhecimento, na Economia Criativa é preciso… Inovar para crescer de forma sustentável!
Qual o cerne, o ponto nevrálgico deste desafio, portanto? Onde exercer uma precisa pressão acupuntural para ativar o metabolismo nacional da Inovação? Na nossa avaliação, necessitamos fomentar de maneira estrategicamente focada a relação entre a Ciência e o Empreendedorismo, fortalecer o diálogo entre o cientista e o empreendedor, promover o desenvolvimento de competências empreendedoras na ciência, e de competências cientificas no empreendedorismo, unir sistemicamente e reciprocamente (e não linearmente, imaginando que um “transbordará” reativamente no outro) a Ciência, e os Negócios, a Universidade, e a Empresa, o Pesquisador e o Empreendedor.
4. A Articulação entre Ciência e Empreendedorismo: Experiências
O Empreendedor, como argumentamos, é um ator chave da conversão do conhecimento em resultados sustentáveis de negócio. Sendo ele oriundo da universidade, do meio empresarial, seja um inventor, ele é o elo fundamental de ligação entre o conhecimento novo e o negócio diferenciado. O estudo GEM – Global Entrepreneurship Monitor – executado no Brasil pelo IBQP – mostra que somos um País intensamente empreendedor (em 2010, entre os países do G20, o Brasil possui a maior Taxa de Empreendedorismo, com 17,5% da população adulta, seguido pela China com 14,4%). Existem inclusive, segundo o estudo, duas vezes mais empreendedores de oportunidade do que de necessidade no nosso País. O mesmo estudo, porém, aponta que apenas 7,5% dos empreendedores brasileiros oferecem um produto ou serviço novo para seus consumidores, sendo que 93% dos empreendimentos são expostos a algum tipo de concorrência direta. Finalmente, o Global Entrepreneurship Monitor mostra que apenas 5% dos empreendedores usam tecnologias disponíveis há menos de um ano. Em resumo, o Brasil é um país empreendedor, mas cujo conteúdo é ainda pouco intenso em inovação.
Em contrapartida, existem como sabemos experiências inspiradoras bem sucedidas de diálogo e articulação entre a Ciência e Empreendedorismo. Citamos o caso do Porto Digital de Recife , no estado de Pernambuco: 100 hectares de um Habitat de Inovação, em que 173 empresas de tecnologia integram-se com a ciência e o conhecimento novo, na área de Software, gerando 5 mil empregos, 3,9% do PIB do Estado de Pernambuco e 16% de participação no PIB nacional da indústria de jogos! Citamos o outro clássico exemplo do Parque Tecnológico de São José dos Campos, no Estado de São Paulo, em que Centros de Ensino e Pesquisas como o ITA, a UNIP, a UNIFESP, a FATEC, a UNESP interagem com empresas como a Embraer, a Petrobras, a Panasonic, a Johnson & Johnson, a GM entre diversas outras, em um ambiente propicio a geração de valor por meio da Inovação.
Mencionamos finalmente algumas experiências do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Sistema FIEP).
O SENAI Paraná, em cooperação com a indústria, estimula e desenvolve a inovação sustentável e a cultura empreendedora, com foco em resultados para o mercado. Este desenvolvimento ocorre por meio do constante apoio e incentivo à inovação através de programas voltados a promover a inovação na educação profissional. Para estimular a criatividade, o empreendedorismo e a inovação, o SENAI promove a Mostra Inova, um concurso de projetos e processos inovadores, voltados para alunos e docentes do SENAI com apoio da indústria. A Mostra Inova ocorre bi anualmente desde 2007 totalizando 192 projetos e 582 entre alunos e docentes envolvidos na submissão e desenvolvimento dos projetos.
Outra ação refere-se aos Hotéis de Projetos Inovadores, pré-incubadoras do SENAI, com o objetivo de desenvolver a inovação por meio do comportamento e a formação do empreendedor. Os projetos são pré-incubados por um período determinado de até dois anos ou até que estejam prontos para o mercado, incubados ou para transferência de tecnologia. O SENAI conta com 08 HPI (Hotéis de Projetos Inovadores) sendo 02 na cidade de Curitiba e os demais em Cascavel, Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Telêmaco Borba.
O SENAI, por meio do Edital SENAI SESI de Inovação , também oferece apoio para a promoção de pesquisa, desenvolvimento de processos, produtos inovadores e tecnologias sociais para as indústrias que tenham como foco a inovação. Assim com a cooperação entre SENAI e Indústria é possível buscar:
• Solução para um problema ou necessidade da indústria;
• Aplicação do conhecimento especializado dos técnicos do SESI / SENAI;
• Contrapartida econômico-financeira do SESI / SENAI;
• Nome da empresa ligado a projetos de inovação social e de inovação tecnológica.
Outra iniciativa do SENAI do Sistema Federação das Indústrias do Paraná é o C2i – Centro Internacional de Inovação , que foi criado em 2009 com a missão de acelerar o desenvolvimento de empreendimentos inovadores, por meio do fortalecimento de competências e processos de Gestão Estratégica da Inovação. Localizado em Curitiba, Paraná, no CIETEP (Centro de Inovação, Empreendedorismo, Tecnologia e Educação do Paraná), o C2i conta com uma série de parceiros que interagem no mesmo local, como: a ANPEI (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras), o Instituto Empreender Endeavor Brasil, o Centro de Design Paraná, um Instituto de Matemática Industrial, a Junior Chamber International, o Paraná Metrologia, entre outros. O C2i implementa neste contexto Programas de Inovação que enderecem, de forma personalizada, temas como:
• Cultura de Inovação e Criatividade;
• Gestão Estratégica da Tecnologia;
• Parcerias Universidade-Empresa;
• Empreendedorismo Inovador;
• Apoio a Captação de Recursos Financeiros para Inovação;
• Inserção do Design como Estratégia no Negócio;
• Inovação no Modelo de Negócio;
• Inovação para a Plena Sustentabilidade;
• Gestão do Conhecimento.
Um último exemplo de prática bem sucedida de articulação entre a Ciência e o Empreendedorismo conduzida pela Federação das Indústrias do Paraná, são as “Rodadas de Negócio Universidade-Empresa”, organizadas pelo Observatório das Indústrias do Sistema FIEP. Este trabalho consiste em mapear, de um lado, demandas de inovação por parte das empresas e empreendedores, de outro lado, ofertas de conhecimento e pesquisas que possam endereçar estes desafios, por parte de Instituições de Ciência e Tecnologia, para então organizar encontros entre o Pesquisador e a Empresa, em formato de “rodadas de negócio” (ou seja, encontros curtos e focados visando descobrir potenciais trabalhos de parceria, contratação de serviços, licenciamento de patentes, etc.). A última iniciativa desta natureza foi organizada em paralelo ao 6º Congresso Internacional de Bioenergia e ao 4ª BIOTech Fair – Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biocombustível, que aconteceu em Curitiba no período de 16 a 19 de agosto de 2011, no CIETEP. Neste contexto, mais de 70 pesquisadores de 28 Instituições de Ciência e Tecnologia interagiram com 32 empresas, por meio de 341 encontros realizados durante 2 dias.
Por Filipe Cassapo, gerente do Senai Centro Internacional de Inovação